terça-feira, julho 6

Maturidade


O encantamento à existência humana está muito ligado aos acontecimentos diários, quer sejam corriqueiros ou inusitados, são os episódios que nos ajudam a escrever a história de tudo o que somos e sentimos. A cada acontecimento, um capítulo!

Aos fatos triviais podemos atribuir a nossa maturidade. É por meio da prática que somos aperfeiçoados. Por esse motivo não reclamo de ter que realizar a mesma atividade repetidas vezes.
Há quem reclame da rotina, mas, é ela quem nos ensina a executarmos com agilidade todas as nossas tarefas desde as mais simples às mais complicadas. Tanto exercitamos, até o dia em que aprendemos.

De simples, classifico aqueles hábitos do tipo, beber água. Fui ensinada quando ainda criancinha a ingerir muita água. Para alguns, parece trivial. Não o é. No meu caso em especial, a água é uma substância insubstituível. Facilmente posso beber 3litros de água por dia, isso ajuda bastante a minha saúde.

Para falar do inusitado, nem precisamos citar situações catastróficas. A ignorar os dramas da vida, rotulo de inusitado o dia em que você pede demissão do seu trabalho e, seu superior lhe  oferece uma promoção seguida de um aumento salarial. Embora, à sua frente esteja exatamente o que você sonhou, uma sensação surpreendente torna a sua expressão abobalhada. O espanto acontece mesmo que você esteja a lutar por esse reconhecimento ou oportunidade há meses ou anos, porque nem sempre, os nossos sonhos são factíveis. A maturidade me deu uma grande lição: “Conquanto eu seja livre para sonhar, nem sempre estarei livre para realizar o que sonhei”. Já abri mão de anseios diversos, pela convicção que tenho do meu, às vezes, súbito limite.

Lições que nos mostram os nossos limites, nos são aplicadas desde a infância. Talvez não se lembre que ganhou uma bicicleta, examente no dia em que seu pai foi transferido pela empresa para uma outra cidade e precisaram se desfazer de todos os pertences, inclusive do seu tão sonhado presente.
Esse aprendizado, não nos ensina a perder o que sonhamos, mas nos ensina a abrir mão daquilo que no momento não podemos possuir. Um dia com a conquista do amadurecimento, você aprende que por vezes faz-se necessário abrir mão de alguns dos seus anseios.
Esse momento é considerado uma travessia, é quando você enxerga o outro lado da ponte e entende que precisa atravessar.
Lya Luft chamaria de múltipla escolha. Diria que podemos ser heróis, guerreiros, realizadores, condenados, conduzidos ou fracassados e, completaria: “Basta parar de vez em quando para, pensar e decidir até onde pode se decidir: Sim, eu assumo... Não, eu não quero... Sim, eu vou abrir aquela porta e enfrentar o que vem depois dela”.
No impasse está o que eu chamaria de encantamento.
Enxergarmos as possibilidades de escolhas nos tornará mais agradecidos à vida e, a certeza de que teremos sempre a oportunidade de optar qual o caminho a seguir, certamente nos fará melhores a cada dia, por sabermos que as atitudes foram exatamente as que pudemos tomar.
É que... “No fundo a gente sabe: Eu sou esse não saber direito coisa alguma, mas vou em frente e me esforço e luto e me entrego e, sou terno ou zangado, sou absurdo, mas esta é a minha vida e estas são as minhas decisões. Algumas delas. (...) Essa é a nossa vida, a nossa múltipla escolha, até o último instante – se tivermos fervor e audácia, ou lucidez”.

Célia Regina Carvalho

Citações: Lya Luft, Veja, ed.2172, pag.24.
Imagem: Meme

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