terça-feira, janeiro 18

A obesidade mental


João César das Neves 


O prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard, publicou em 2001 o seu polêmico livro “Mental Obesity”, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna. Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física decorrente de uma alimentação desregrada. “É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão ou mais sérios do que a barriga proeminente.”
Segundo o autor, “a nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono. As pessoas se viciaram em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. ”
“Os ‘cozinheiros’ desta magna “fast food” intelectual são os jornalistas, os articulistas, os editorialistas, os romancistas, os falsos filósofos, os autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros chamados ‘profissionais da informação’”.
“Os telejornais e telenovelas estão se transformando nos hamburgers do espírito. As revistas de variedades e os livros de venda fácil são os “donuts” da imaginação. Os filmes se transformaram na pizza da sensatez.”

“O problema central está na família e na escola”

“Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se abusarem dos doces e chocolates. Não se entende, então, como aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, por videojogos que se aperfeiçoam em estimular a violência e por telenovelas que exploram, desmesuradamente, a sexualidade, estimulando, cada vez com maior ênfase, a desagregação familiar, a permissividade e, não raro, a promiscuidade. Com uma ‘alimentação intelectual’ tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é possível supor que esses jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular”.
Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado “Os abutres”, afirma: “O jornalista alimenta-se, hoje, quase que exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”
O texto descreve como os “jornalistas e comunicadores em geral se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante”.
“Só a parte morta e apodrecida ou distorcida da realidade é que chega aos jornais.”
“O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para quê ela serve. Todos acham mais cômodo acreditar que Saddam é o mau e Mandella é o bom, mas ninguém se preocupa em questionar o que lhes é empurrado goela abaixo como “informação”.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um “cateto.”
Prossegue o autor: “Não admira que, no meio da prosperidade e da abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se e o folclore virou ‘mico’. A arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce, entretanto, a pornografia, o cabotinismo (aquele que se elogia), a imitação, a sensaboria (sem sabor) e o egoísmo. Não se trata nem de uma era em decadência, nem de uma ‘idade das trevas’ e nem do fim da civilização, como tantos apregoam. Trata-se, na realidade, de uma questão de obesidade que vem sendo induzida, sutilmente, no espírito e na mente humana. O homem moderno está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental”.

(Blog Teoria da Conspiração - O Que Eles não gostariam que você soubesse…)

Com informações de: Blog e Diversidade

4 comentários:

  1. Gostei da edição do post. Fiquei interessada no livro. Vou ler. E o que ele diz já é mais que verdade. Já estava na nossa cara, só faltou o fósforo para enxergar.

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  2. E ele fala isso sem conhecer a imprensa brasileira, as novelas brasileiras e o discurso emergente do Brasil.

    Me lembra um pouco o bombardeio de agencias de inteligência. Divulgam tanto, e tão diferentes direções, que tudo parece verdade. Ou mentira. Acaba no tanto faz, no tilt de cérebros cada vez mais preguiçosos. Também, tadinhos, são exauridos num trabalho secundário (e obrigatório) de "absorção" de informações. Mal tem fôlego para o "pensar", processar o material consumido, livrando-se das "toxinas e gorduras" embutidas. "E se...". Ah, adoro essa frase. Adoro lembrar que sim ou não é para sistemas binários, para computadores. Ao humano, sempre coube o torturante "talvez"; nossa maior maldição, bem como nossa grande virtude.

    Ótimo artigo, Célia.

    Beijs

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  3. Olá, "Pessoas"... Bom que tenham gostado do post. Obrigada por suas visitas. Bjus

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  4. Muito bom artigo...como vivemos esta diretamente relacionado à nossa cultura mental, sendo acomodados com o pior , às vezes, com o que nos impõe, seja na mídia, seja nas lutas democráticas.
    É nosso dever estarmos "preparados" para mudar as "estruturas" que imperam suas idéias sobre os obesos mentais.
    Parabéns , Célia, pelo artigo.

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