quinta-feira, abril 15

UM BASTA Á VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: EU POSSO!

A cada 3 segundos uma mulher é vítima da violência doméstica no Brasil. Entre milhares de casos registrados, 70% tem origem nas suas casas. Ou, pior, são praticadas por seus parceiros.

A violência doméstica tomou uma dimensão que parece, às vezes, incontrolável. Parece-se com algo que jamais terá fim. Que o digam as mulheres que estão nesse exato momento, sob a mira de um agressor. E, antes que sejam criticadas por não reagirem ao primeiro “bofete”, leve-se em consideração que a maioria da violência é oriunda dos parceiros e, é indispensável, levar em consideração alguns pontos de grande valor:

1. Nós mulheres, a maioria, casamos por amor. O sentimento está acima de quaisquer outros motivos que sejam. É uma questão cultural. Não só no Brasil, como no mundo. Até existem países que não pregam o amor em primeiro lugar, mas, de alguma maneira, nós mulheres sofremos algum tipo de imposição social para o matrimônio;

2. Sempre que algo é imposto, torna-se prisional ou, no mínimo, pré-estabelece limites;

3. Para nós mulheres, amar não é uma imposição, mas, uma condição para iniciarmos uma relação a dois. Quer seja na relação hétero ou, homossexual;

4. Na relação a dois, sem que haja violência já nos colocamos num determinado limite de movimentação;

5. Quando a violência chega, já nos encontra limitados;

6. A violência por sua vez:

a) Destrói a nossa auto-estima;

b) Frustra o sonho de sermos felizes com a pessoa amada;

c) Leva-nos a descrença em relacionamentos, uma vez que, nos ensinaram: “seremos felizes até que a morte nos separe”;

7. Aspectos sociais:

a) Vivemos ainda, numa sociedade retrógrada, em que mulheres solteiras, divorciadas, viúvas ou separadas representam ameaça para as casadas;

b) Homens ainda são sinônimos de estabilidade financeira e inclusão social, equivocadamente, diga-se de passagem;

c) Embora, preenchamos mais espaços nas universidades, ainda não somos a maioria em cargos de chefia e, os nossos salários continuam menores que as remunerações masculinas;

d) Mesmo preparadas por universidades, quando ascendemos profissionalmente, ainda querem nos atribuir “apadrinhamentos”;

8. Pontos de vista familiar:

a) As nossas mães foram ensinadas a permanecerem casadas, mesmo debaixo de TODO e QUALQUER tipo de violência;

b) Os nossos pais praticavam violência e não recebiam punição alguma;

c) Nossos pais receberam a formação doméstica retrógrada que ora, tentam nos impor;

d) Nossas famílias não acreditam na justiça brasileira. Atribua-se a isso, tudo o que não viram ser penalizado.

Todos os pontos, acima citados, além de centenas de outros (individualizados), somados, deixam mulheres e crianças, cercados no limite da violência doméstica.

Superar a violência quando essa é doméstica, não é uma tarefa fácil. A história de um país marcado pela escravatura de homens e mulheres, justificada, por terem em sua melanina, substância diferente dos europeus. Um país que censurou o voto de mulheres. Que fechou, por décadas, os olhos para a violência praticada contra mulheres como Maria da Penha, por vezes não nos estimula.

Todavia, nós mulheres brasileiras, já superamos tantas outras e, acredito: superar mais uma das faces da violência doméstica, dentre muitas, é possível.

Para isso, precisamos encontrar dentro de nós, os sonhos que sonhamos quando meninas. Quando imaginávamos que era possível um mundo cor de rosas, desde que as plantemos . Um mundo que tenha um mar com cores azuis e verdes. Com campos verdejantes. Com pássaros que cantarolam ao nascer do dia e, por fim, com um dia que seja o nosso dia. Com uma história que seja a nossa história, escrita por punhos próprios e, no dia em que não mais concordamos ou, acreditarmos nela, possamos apagar com a borracha que perdoa, apaga e esquece ofensas.

Façamos uso dos nossos sonhos de meninas e, quantas vezes precisarmos, escreveremos quantas histórias queiramos. Está dentro de nós o desejo e a vontade de sermos felizes. Precisamos mesmo é escutar a nossa própria voz. Tenho certeza: “nos conhecemos melhor que qualquer pessoa, por mais próxima que pareça ser. Amamo-nos mais do que qualquer outra pessoa. Queremos-nos bem, mais do que qualquer pessoa".

Célia Regina Carvalho
Salvador, em 15 de abril de 2010.

Um comentário:

  1. Oi,parabéns pelo texto.

    Estou enviando-lhe um e-mail para você futuramente poder enviar seu texto. Eu quero dar preferência aos textos literários, mas se quiser pode enviar qualquer um.

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