sábado, abril 17

CARTA DE OLGA BENÁRIO À ANITA GARIBALDI E CARLOS PRESTES

“Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças - ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte. Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, Meu querido marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que me esforço para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijos pela última vez.

Olga.”

4 comentários:

  1. Por fiim, somos viidas! Pensantes! Lutantes! Pulsantes!
    Pq há tanto sofrimento no mundo?,Pra que criar mais ainda?
    O ser humano é tão impiedoso, insolente, egoiista! ...
    Sempre há uma luz.. um camiinho*... eu creiio*... somos todos melhor e capaz daquilo que pensamos ser....
    Temos sempre que enxergar o amanha como um fonte de disposição para enfrentar o hoje, nada é fácil, nunca foi, mas podemos torná-lo melhor ! pra nós ! pro mundo, nunca pensar que esse mundo é muito, pq não é, se tratando de bondade,amor pelo próximo, o mínimo se torna o Maximo. O que pra gente pode ser rotina, pra quem espera por algo pode ser o seu tudo, ou o seu ultimo...
    Lutar pelos nosso ideais , nunca desistir !
    Lutar pelo justo, pelo bem e pelo melhor do mundo !
    O amor ainda é a melhor das armas contra todo mal !
    O amor daquele que nos ensinou, e que deu a sua vida por nós* por amor *

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  2. Impossível descrever o que sinto todas as vezes que leio sobre Olga Benario, me faz desistir de desistir do meu proximo,não consigo entender esta bagunça egoísta que vivemos!! Só minhas lagrimas conseguem descrever!!Raquel Moret

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  3. ..."me faz desistir de desitir do meu próximo" - Goostei muito dessa afirmação, Raquel! Abraços

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  4. concordo , a raquel foi muito feliz nessa frase.simone trisch

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